Ananias chegou cedo ao templo. Trazia um cordeiro de um ano, sem qualquer defeito. Era um belo animal. Um bom sacrifício. Vinha cedo para não ter que entrar numa fila longa e ainda havia outras coisas para tratar naquela manhã. E o sacrifício foi feito com alguma rapidez.
O sacerdote acostumado ao trabalho não demorou quase nada. Ananias fez uma oração rápida, entregou o animal, esperou o necessário, recebeu a bênção e já estava de novo na rua a fim de resolver o tal assunto com o cunhado.
Sentindo porém, alguma pontinha de culpa por um sacrifício tão rápido, ele ainda voltou para as orações da tarde. Sentiu-se melhor depois da cerimónia. Mais cumpridor, mais correto. Na verdade ele era até um bom adorador. Fazia sacrifícios com frequência tendo o cuidado de só apresentar animais perfeitos. Assistia as orações sempre que possível e cumpria razoavelmente o sábado, sem fanatismo, mas com mais rigor que muitos que ele conhecia. Então porque aquela sensação de vazio?
Era um judeu praticante, parte do povo escolhido, morava na cidade de Davi, à sombra do templo de Salomão, cumpria todas as obrigações religiosas, cuidava de ser um bom israelita, deveria estar mais contente, mais satisfeito. No entanto, sentia um buraco na vida. Parecia que nada que fazia era suficiente. Parecia que Deus estava longe e suas orações não eram ouvidas. Sentia pouca satisfação na leitura da lei e nos momentos de culto. Tudo era um bocado pesado, meio nebuloso. Porque não estava satisfeito?
No fim de outra tarde, ao passar perto do templo, ouviu o profeta Isaías a pregar. Era um homem austero. De olhar penetrante e forte nas palavras. Ele dizia: “Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que afligimos as nossas almas, e tu não o sabes? Eis que no dia em que jejuais achais o vosso próprio contentamento, e requereis todo o vosso trabalho. Eis que para contendas e debates jejuais, e para ferirdes com punho iníquo; não jejueis como hoje, para fazer ouvir a vossa voz no alto.”
Ananias então lembrou que ao sair do sacrifício tinha discutido com o cunhado e que mesmo durante a cerimónia estava com a cabeça noutro lugar. Percebeu que Deus procurava algo que ele na verdade não dava. Culto sem relação genuína com Deus seria sempre vazio.
Pr. Joed Venturini de Souza